25 de março a 22 de julho de 2023 | Museus

Exposição "MUSGO", na Quinta da Cruz - Centro de Arte Contemporânea

Partindo de uma prática artística atenta à natureza e à representação do território, em MUSGO, os artistas associam livremente, e num só gesto, ações como pensar, ver e sentir.

MUSGO evoca profundidade, textura, matéria orgânica, tempos húmidos e de cor vibrante, ou não fosse esta uma planta ombrófila, por natureza, da sombra.

A antiga Sala do Forno – a sala do fogo e da transformação, portanto - recebe um conjunto de desenhos, na parede, planos aproximados de musgos que lembram estudos da matéria.

No centro da sala destaca-se uma máquina de mostrar imagens construída pelos artistas, que é como que uma experiência sobre possibilidades de percecionar paisagem. A peça evoca a imagem histórica de um visor estereoscópico, esses pequenos dispositivos comuns na segunda metade do séc. XIX, que criavam a impressiva ilusão de profundidade tridimensional (3D), a partir de duas fotografias bidimensionais (quase) idênticas. Importantes divulgadores das paisagens de lugares outros, e com uma tónica escapista, os visores estereoscópicos, tal como a carte postal, foram também firmes estabelecedores de ideais de exotização pitoresca.

Em MUSGO, olhamos para o que nos está próximo. Cria-se um dispositivo para imaginar um corpo novo, que vê com as mãos e tateia com os olhos, o que ao mesmo tempo que nos interroga sobre as nossas limitações, liberta-nos para novas competências: experimentar a visão como consciencialização corporal, usar o corpo como forma de conhecer. Invocando uma fusão entre vários planos sensoriais, a instalação remete para a sinestesia, e, pela forma como os vários elementos contribuem individualmente para o momento criado, a sinergia. Os olhos são substituídos por écrans e a visão binocular já não concentra a imagem (como faz o cérebro de muitos animais), antes a separa. Mas ao contrário do que se poderia pensar, o dispositivo não está no campo da hiperbolização tecnológica, antes assenta numa desarmante simplicidade de meios.

A dimensão do dispositivo criado – com o seu núcleo de vácuo - remete para uma ideia de caixa negra, dentro da qual não sabemos exatamente o que se passa, como se processam as coisas, a verdadeira dimensão da complexidade do sistema. É como um enigma.

 

Sobre os artistas

Daniel Moreira e Rita Castro Neves vivem e trabalham entre o Porto e a Beira Alta. Daniel Moreira é licenciado em Arquitetura, iniciando em 2000 um percurso multidisciplinar entre a arquitetura e as artes plásticas. Rita Castro Neves, após terminar o Curso Avançado de Fotografia do Ar.Co em Lisboa e o Master in Fine Art da Slade School of Fine Art de Londres, inicia uma atividade artística regular, de docência e de curadoria.

Com percursos artísticos separados, começaram a trabalhar em colaboração com Laking, que realizaram em 2015, a convite do espaço artístico finlandês Oksasenkatu 11, iniciando um projeto longo a propósito da representação da paisagem, em que refletem com o desenho, a fotografia e o vídeo, de forma instalada, sobre colaboração artística, diferentes técnicas e culturas artísticas, território, escala e percurso.

Desde então realizam diversas exposições individuais e coletivas, bem como residências artísticas. Em 2020 terminam o projeto de recuperação da Escola de Macieira, uma antiga escola primária do Plano dos Centenários na Serra de São Macário, na Beira Alta, para aí iniciarem um projeto de reflexão sobre cultura serrana, a natureza e o rural, e logo pela ecologia, a biopolítica e a preservação ambiental.

danielmoreira.net | www.ritacastroneves.com | www.escolademacieira.com

www.outracoisa.escolademacieira.com | www.caixadecorreio.danielmoreira-ritacastroneves.com